terça-feira, 15 de setembro de 2009

Visão do cotidiano


Olá, galera!

Quanto tempo! Estava com saudade de escrever aqui. Estas semanas têm sido complicadas. O período começou há tão pouco tempo e já temos matéria o suficiente para estudar durante toda sua duração.
Desculpas pedidas, vamos ao tema de hoje.

Estive pensando bastante no que escrever. Como citado no meu texto anterior, estou com várias ideias, porém, qual delas escolher? Solucionando essa dúvida, eis que surge um acontecimento, em minha opinião, maravilhoso: a bienal do livro.

Só para situá-los, estive lá ontem e, como não poderia deixar de ser, está excepcional! A única coisa que me deixa muito triste é o fato de não poder comprar todos os livros que eu gostaria. Como dizia o comercial de um banco há algum tempo atrás, "Universitário é tudo pobre", rsrs.

Devaneios à parte, a bienal me impeliu a falar sobre algum escrito e decidi que seria sobre Cecília Meireles.

Há algumas semanas atrás, tive o prazer, para não dizer a honra, de ter em mãos "Janela Mágica", coletânea de crônicas da autora que fala sobre o cotidiano de todos nós. A diferença desse para os outros livros?

Imagine uma janela. Sua utilidade é permitir a passagem de ar e luz e nos fornecer a visão do que está fora, ou dentro, para quem muda seu ponto de referência. Agora, atribua a esse objeto o elemento mágico, aquele que está dentro de cada um de nós, mas que insiste em se esconder para não nos fazer parecer ridículos perante à sanidade que, supostamente, devemos possuir.
Essa mistura é exatamente o que demonstra a coletânea: uma visão mágica sobre a rotina que levamos. Uma visão sobre o que fazemos e deixamos de fazer. Um tratado sobre a mágica da vida.

Grande parte das crônicas retrata a infância. Com sensibilidade e leveza próprias das crianças, Cecília consegue nos fazer olhar o mundo de uma outra perspectiva, a de quem não perdeu a alegria de viver, apesar de tantos motivos para fazê-lo. E ela critica, duramente, o estilo de vida que levamos. A falta de sentido em algumas de nossas ações, a perda da sensibilidade e a ausência de percepção da importância do outro. É fácil encontrar-se em alguns, para não dizer em quase todos, textos.
Atual, marcante e crítica. É assim que classifico esta fabulosa obra. Recomendada à todas as pessoas, especialmente àquelas que perderam a pouca humanidade que ainda nos resta.
Só para rechear um pouco esta resenha, trago uma das crônicas que mais apreciei. Uso o verbo apreciar pois, ler Cecília, não é somente fazer uma leitura, é ser forçado a utilizar todos os sentidos para conseguir atingir o clímax da história.

O ANJINHO DEITADO

Esvoaçavam mil anjos pela cidade... Anjos góticos, barrocos, modernos, existencialistas e atômicos.
"E este anjinho que não esvoaçava: este anjinho deitado!"
As igrejas estão cheias de anjos!
Alastram-se anjos por todas as paredes, nós todos estamos pensando em belos anjos muito antigos, a voarem entre Nazaré e Belém, a acordarem pastores e a cantarem para Deus e para os homens, que há um Menino Maravilhoso nas palhinhas de uma gruta.
"Mas este anjinho deitado já não se sabe o que pode ver por dentro das pálpebras".
O anjinho vai deitado numa caixa de seda cor-de-rosa, como um presente de Natal. Uma carreta escura e triste o vai levando, solitário. Na verdade, não se sabe quem o acompanha...
Às vezes, sou eu; depois, é um táxi que sai do alinhamento; torno a ser eu; é um longo carro diplomático; é um desses carrinhos doidos que brincam de correr pela cidade; mas torno a ser eu.
Sou eu o seu acompanhante mais fiel, quem sabe por que circunstâncias do destino! O anjinho deve ser uma menina de uns três ou quatro anos, dessa idade verdadeiramente linda, em que as crianças descobrem o mundo, utilizam o "por quê?" a cada instante e todos os dias aprendem uma palavra nova.
Quem não chora ao perder uma criança dessa idade?
E, se os homens não fossem tão distraídos e não andassem também tão amargurados com suas experiências de adultos, quem haveria, nas ruas, que não sentisse uma dor na alma à passagem deste pequeno caixão acetinado?
Quando a carreta desaparece, olho para os lados, vejo as multidões que desembocam das ruas, apressadas, fatigadas, carregadas de presentes: todos pensando em árvores de Natal, no que se pode e não se pode comprar, no que desejaria fazer, nas alegrias preparadas, nas alegrias previstas... Jóias, perfumes, vestidos, brinquedos...
Renovam-se as vitrinas incansáveis; vendedores já sonolentos desenrolam papéis festivos, dobram mecanicamente as pontas perfeitas dos embrulhos, dão mil voltas aos atílhos coloridos e dourados, fazem laços de fita que parecem dálias...
Mas a carreta reaparece, está de novo na minha frente e eu me pergunto se esta meninazinha não estará vendo a rua, lá de dentro; se a caixa acetinada não se terá feito transparente aos seus olhos de anjo; se ela não sorrirá com sabedoria precoce para toda esta pressa das ruas; e não se sentirá já sossegada e livre de tudo isto, sem mais gosto por bonecas, bolas, palhaços, coisas que os homens inventaram para tornarem mais aceitável a vida...
"Talvez a menina não esteja mesmo lá dentro, mas pousada no alto da carreta, como um ornamento, como um anjo entre os mil anjos deste Natal, dizendo adeus para todos nós, que continuamos aqui, enquanto ela sobe para a festa, com os outros anjos em pleno céu".
Perdoem-me se fui exacerbadamente apaixonado ao escrever. Aqueles que são contra, façam o obséquio de se pronunciar para estabelecermos uma troca de ideias.
Um grande abraço a todos que têm apreciado e ajudado em nosso empreendimento de valorizar a cultura. Muito obrigado pelas críticas! E, se alguém tiver interesse em algum assunto especial, é só pedir que traremos para vocês.
Rodrigo, MtF.

3 comentários:

  1. eu juro que eu li o conto....mas não consegui entender
    quem é a carreta e a menina? :S da pra falar? :D

    ResponderExcluir
  2. Oi, Felipe!

    A carreta é um carro de uma agência funerária que leva o corpo já falecido de uma garotinha de 3 ou 4 anos, nas proximidades do natal.

    Esclareci a dúvida??? Qualquer coisa, é só perguntar de novo.

    Abração!

    ResponderExcluir
  3. Obrigado, agora faz mais sentido a história :D

    ResponderExcluir